Freio 8
O Descensor Freio 8 tem sido usado por mais de 50 anos e a maioria dos fabricantes de hardware fabricam pelo menos uma forma deste dispositivo. Com uma longa história e a simplicidade do dispositivo significa que geralmente ele não vem com instruções. Pode-se presumir que o design fundamental não mudou, assim os detalhes publicados geralmente referem-se apenas a “características” específicas oferecidas por variações ao projeto padrão.
Aviso Legal
Esta discussão certamente não deve ser interpretada como instrução. É simplesmente uma apresentação de algumas das maneiras pelas quais o Freio 8 é utilizado por outros para alcançar certas variações no desempenho. Os fabricantes podem ter instruções que apresentem usos permitidos de seus produtos e devem ser lidos, compreendidos e executados antes e durante o uso.
As técnicas apresentadas abaixo variam significativamente de acordo com:
- Experiência do usuário.
- Peso do usuário.
- Tipo de corda, condição, diâmetro, umidade etc.
- A forma, o tamanho e outros atributos do Freio 8.
Presume-se que os leitores estejam familiarizados com o uso e função do Freio 8 e que, entre outras coisas, deve sempre haver uma mão firmemente na corda realizando a frenagem para gerenciar o atrito fornecido pelo dispositivo. Se você não estiver familiarizado com o uso deste dispositivo, então não tente essas técnicas. Se você for tentar qualquer uma destas técnicas, execute-a em um ambiente controlado e com um sistema de segurança independente para protegê-lo em caso de erro ou desempenho inesperado.
Freio 8 – Configuração Padrão
Esta é a maneira como o Freio 8 normalmente é usado:
- Retire o dispositivo do mosquetão.
- Passe um seio da corda através do “grande” furo.
- Puxe o seio sobre o pequeno buraco, permitindo que ele localize na haste do dispositivo quando o seio é puxado.
- Prenda o “pequeno” buraco do dispositivo de volta no mosquetão (preso ao laço de segurança da cadeirinha).
O usuário pode então controlar a sua descida variando a tensão mantida pela mão que segura a corda-freio abaixo do dispositivo. Observe que esta imagem mostra o usuário segurando a corda do freio não apenas com a mão na corda-freio, mas também com a sua segunda mão imediatamente abaixo do dispositivo e segurando contra a haste do mosquetão.
Uma das queixas mais comuns com o Freio 8 é que é fácil de cair, pois fica livre durante a conexão e desconexão da corda. Isto é ainda mais problemático se uma descida terminar numa piscina profunda e o usuário tiver que completar a desconexão com as mãos debaixo d’água. Uma solução simples para isso é estar com o Freio 8 unido ao mosquetão pelo “grande” buraco enquanto se aproxima da descida. Ao invés de remover o dispositivo, passe a corda através do orifício “grande” e sobre o “pequeno” buraco, em seguida abra o mosquetão e, finalmente, vire o dispositivo para que o “pequeno” buraco seja conectado no mosquetão. Ao concluir a descida simplesmente inverta este processo e deixe o local com o Freio 8 ’em repouso’ preso ao “grande” buraco.
Outra queixa é que o Freio 8 torce a corda. Esta torção varia com a posição da mão do freio, mas normalmente não é um problema a não ser que os arremessos sucessivos sejam manipulados com a mesma corda comprida usando uma segurança intermediária. Se este é realmente um problema, então os usuários podem alternar de esquerda para direita a saída da corda no dispositivo para reverter qualquer torção.
Freio 8 – Modo Esportivo
O modo esportivo ganhou alguma popularidade com montanhistas como uma opção de segurança na escalada com top rope. Mesmo que tenha significativamente menos atrito através do dispositivo, “baixar a carga” ainda é gerenciável porque há atrito extra através dos mosquetões no topo da escalada. A fricção reduzida faz com que seja mais fácil “alimentar de corda” o freio enquanto o escalador sobe.
Este modo nunca deve ser usado para segurança de um escalador guiando. Simplesmente não há atrito suficiente fornecido pelo dispositivo no caso de uma queda do escalador-guia.
Há momentos em que menos atrito é desejável durante a descida, especialmente com operadores muito leves. Aqueles com menos de 40kg vão lutar para alimentar a corda com a “configuração padrão” em todas as descidas, exceto faces negativas. O modo esportivo pode ser uma boa opção neste caso.
Freio 8 – Modo de Segurança
Esta é a única maneira que um escalador deve fazer a segurança com o freio 8 de um escalador guiando. Usado corretamente, este modo não deve apenas fornece atrito suficiente para capturar o guia no caso de uma queda, mas também permite que o segurança libere corda com relativa facilidade. Rapelando ou descendo carga neste modo requer prática, pois a corda não se alimenta facilmente quando o dispositivo é carregado.
Freio 8 – Passagem no Mosquetão
Isto é o mesmo que a “configuração padrão”, exceto pela adição de uma etapa final onde o cabo de freio é passado através do mosquetão. Este modo não é comumente utilizado, no entanto, fornece um pouco de atrito adicional para os usuários mais pesados. Isto ajudará aqueles acima de 100kg, os quais tem que lutar de maneira a controlar sua descida em faces negativas com a configuração padrão.
Freio 8 – Modo Resgate
Quando a corda é passada através do “grande” buraco uma segunda vez, em seguida, o usuário tem fricção suficiente para controlar cargas muito pesadas. Isso pode ser útil em situações de resgate onde um membro do grupo incapacitado deve ser acompanhado por outro operador experiente. Esta técnica, como todas as outras discutidas aqui, deve ser bem compreendida e praticada em um ambiente controlado antes do uso real.
Freio 8 – Modo Canionismo
Como discutido acima, uma das queixas comuns com o Freio 8 é que pode ser difícil prender/remover em ambientes escuros/úmidos/frios como cânions. Esta é certamente uma técnica avançada, mas a imagem mostra uma opção de uso que não requer a abertura do mosquetão principal. É certamente possível que a corda pode inadvertidamente sair do dispositivo se o usuário parar e remover a carga do sistema. O custo-benefício considerado aqui é segurança x facilidade de uso. Se quisermos ser capazes de retirar a corda para fora do dispositivo mais facilmente, então, é claro, a corda pode inadvertidamente sair do dispositivo mais facilmente.
Figura 8 – Modo Frenagem Automática
Fui apresentado a este método há talvez 20 anos atrás por um técnico do Leste Europeu ao discutir o desenvolvimento das técnicas de acesso da corda. Ao olhar para um dispositivo em particular, sua resposta foi algo como “Não podemos permitir que, como de onde venho, você já viu isso?”. Eu não tinha, mas fiquei imediatamente impressionado com a simplicidade.
Este modo é semelhante ao modo canyon, no entanto, há uma torção deliberada no seio antes de ser passado sobre o “pequeno” buraco. Esta torção resulta em que a cordada carga comprima a corda do freio contra o corpo do Freio 8 quando não é manipulada. Observe que há duas maneiras possíveis para fazer essa torção e apenas um resulta em uma função correta. Para liberar este aperto, o usuário deve puxar com cuidado para baixo na extremidade “pequena” do furo da Figura 8, muito parecido com a mão que opera a alavanca do freio em muitos outros dispositivos de travamento automático.
Existem muitas diferenças na forma dos Freios 8 e cada um destes terá uma sensação muito diferente com a função de auto-stop. Dispositivos mais curtos serão mais difíceis de desbloquear, já que a alavanca efetiva é mais curta.
Este modo, como o modo de canionismo, é potencialmente menos seguro, então os usuários podem desejar clipar uma autossegurança no “pequeno” buraco para eliminar a probabilidade de o seio torcido pule para fora do “pequeno” buraco. Outro potencial mal uso pode ocorrer se, uma vez estabelecido corretamente, todo o sistema é virado de, digamos, direito para a operação canhoto. Se isso acontecer, o sistema volta ao modo canionismo.
Força de Frenagem
Realizamos um conjunto muito simples de testes no banco de teste RopeLab para avaliar a força de frenagem relativa a cada modo de Freio8. A tensão foi aplicada lentamente com um guincho elétrico até a corda começar a deslizar através da Figura 8. Os resultados de “uma mão na corda” são certamente subjetivos, mas equivalem ao que eu poderia segurar facilmente com apenas uma mão e ter uma gestão confortável. Os valores “Max” (máximos) são o que eu poderia segurar com as duas mãos firmemente antes da corda deslizar. É importante notar que esses valores são de testes únicos com um tipo de corda estática de 11mm em um determinado tipo de Freio 8. É seguro dizer que esses valores variariam significativamente com diferentes combinações de corda e dispositivo.
Modo | Uma mão (kN) | Máx (kN) |
Padrão | 0,7 | 2,3 |
Esportivo | 0,6 | 1,5 |
Segurança | 1,0 | 1,9 |
Passagem no mosquetão | 1,5 | 3,5 |
Resgate | 2,0 | 5,9 |
Canionismo | 1,2 | 2,2 |
Resumo
O Freio 8 é uma peça versátil de equipamento e muitas pessoas desenvolveram técnicas específicas que estendem seu uso efetivo muito além do óbvio dispositivo de descida individual. Sua popularidade está diminuindo à medida que mais e mais modernos dispositivos especializados aparecem, no entanto, espera-se que os usuários sempre mantenham a compreensão e as habilidades para usar essas peças fundamentais.
Agradeço ao Tom Delaney por sua ajuda com as imagens e testes.
© Richard Delaney, RopeLab, 2015. Translated by Eduardo José Slomp Aguiar, 2016.