Faca de Resgate

Muitas vezes existe uma discussão sobre os méritos relativos de transportar uma faca em seu cinto de segurança. As razões normalmente se centram em torno de liberar um alpinista “preso”. O uso proposto da faca seria realizado pelo próprio alpinista ou por um resgatista. As causas comuns de ficar preso incluem:

  • Cabelos e barbas presas no descensor.
  • Roupas ou jóias capturadas pelo descensor.
  • Outros equipamentos, como prusiks ou slings capturados pelo descensor.
  • Rapel autosseguro inadvertidamente sobrecarregado e falta de habilidades para remover a carga.

Knife

Eu sempre levei esta faca de resgate super-afiada em meu cinto por mais de 20 anos, mas eu gostaria de desafiar a percepção comum do seu uso pretendido. Na verdade, além de utilizá-la para almoçar, só posso imaginar um cenário onde eu iria usá-lo para um resgate. Observe também que eu tive que ser criativo em encontrar uma maneira de proteger a lâmina de abertura acidental enquanto mantenho somente uma mão operando.

A faca de resgate não deve ser usada para qualquer um dos cenários mencionados acima, a menos que haja uma ameaça imediata à vida. Um operador estressado suspenso em uma corda carregada empunhando uma faca afiada na vizinhança da corda pode não estar pensando claramente o suficiente para garantir que a faca não toque na coisa errada. Uma corda carregada vai cortar muito facilmente.

Uma faca pode ou não pode livrar adequadamente cabelos ou roupas emaranhadas em um dispositivo. Um prusik pode ser capaz de ser cortado, deslizando a lâmina cuidadosamente entre a corda principal e o prusik, no entanto, existem muitas maneiras mais seguras e melhores para lidar com essas situações. Algumas sugestões são detalhadas abaixo.

Prevenção

A prevenção é de longe a melhor opção. Conhecer e compreender os riscos. Amarrar o cabelo para trás, dobrar as roupas soltas, incluí-los em verificações de segurança, descer com cuidado e saber como resgatar a si mesmo e aos outros. Pratique estes em um ambiente controlado até que se tornem instintivos.

Auto-resgate

No momento em que você perceber que algo está começando a entrar no dispositivo, pare. Bloqueie o seu dispositivo, possivelmente com voltas na perna se o cabelo está envolvido, e pegue os seus prusiks. Configure seu sistema de subida e levante um ou dois movimentos para desentupir seu dispositivo. Isso soa simples, no entanto, pode ser muito doloroso e difícil de conseguir se é o seu cabelo que é capturado.

Se é um rapel autosseguro (prusik carregado) acima do dispositivo que está preso, primeiro bloqueie o seu dispositivo e, em seguida insira outro prusik para o seu pé para levantar-se e libertar o autosseguro. Alternativamente, dobre uma perna e enrole a corda do freio em torno de seu pé várias vezes. Em seguida, alcançar a corda abaixo e agarre-a a corda principal acima do prusik carregado. Você agora deve ser capaz de pendurar-se  brevemente e desbloquear o autosseguro bloqueado.

Resgate de outros

Enquanto um resgate pode parecer rápido, descer até uma vítima presa já toma certo tempo e a sensação de urgência pode resultar em ações mal consideradas em torno de cordas carregadas. Há muitos argumentos contrários e outras técnicas de resgate sem uso da faca para recuperar vítimas presas. Não conheço atualmente qualquer organização que ainda treina resgates cortando a corta para recuperações não urgentes.

Se você está guiando ou facilitando uma experiência, então espere que as coisas possam dar errado e tenha outros sistemas no lugar e tão bem ensaiados que, na ocorrência, a resolução é simples.  Você deve montar seu sistema com antecedência, para ser capaz de solucionar rapidamente um dispositivo emaranhado. Se uma descida é assegurada de cima com uma corda separada, introduza uma a folga na corda do alpinista desbloqueando a ancora debreável (passível de liberação) ou elevando a carga na corda de segurança. Se a segurança é feita de baixo, então o resgate já não é mais tão simples. A segurança de baixo deve travar a descida e esperar por alguém para descer ao lado da vítima e, em seguida, estabelecer um laço para o pé preso à corda da vítima para que ela se levante e solte o que travou a descida.

Ameaça imediata à vida

Duas situações em que uma faca pode ser útil, ambas relacionadas à asfixia e, portanto, são uma ameaça imediata à vida:

  • Afogamento, como resultado de permanecer embaixo d’água (canoagem ou resgate de água rápida).
  • Estrangulamento, como resultado de algo em torno do pescoço da pessoa (talvez uma bandana) ficando preso no descensor.

Se isso ocorre em uma atividade guiada e há uma segurança separada gerenciada de cima, então eu posso optar por bloquear a segurança, passo a carga entre as cordas principal e de segurança, e depois corto a corda principal em uma direção longe da corda de segurança.

Resumo

Muitas vezes é muito fácil sentar e dizer “eles deveriam ter transportado e usado uma faca”. Se realmente pensarmos através das conseqüências potenciais desta ação, então eu suspeito que isso raramente seja apropriado. A única vez que eu poderia utilizar a minha faca é se uma corda carregada apresenta uma ameaça imediata para a vida e, ao cortá-lo, eu minimizei a probabilidade de piorar as coisas. Em mais de 20 anos de trabalho como técnico de corda, instrutor e operador de resgate, nunca usei minha faca para o resgate. No entanto, tem sido uma parte fundamental em muitas das minhas refeições em lugares extraordinários.

© Richard Delaney, RopeLab, 2015.  Original article can be found here.

Traduzido por Eduardo José Slomp Aguiar, 2017.

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